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Evolução no combate à lavagem de dinheiro no Brasil
Por Lucas Ermino
A lavagem de dinheiro é um problema global, que afeta tanto empresas quanto indivíduos. Apesar da escala associada a este tipo de crime ser algo difícil de calcular, as estimativas do prejuízo causado por estas práticas são expressivas. Segundo números da Organização das Nações Unidas, cerca de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) global passa por “lavagens”, uma cifra equivalente a US$ 2 trilhões.
Este é um dos principais problemas enfrentados pelo setor financeiro, e vem evoluindo, já que as competências de criminosos para explorar efetivamente as defesas de organizações também estão em constante aprimoramento. Mas o contexto é complexo e o processo de evolução tecnológica para o combate à estas atividades é desafiador. É legítimo questionar, por exemplo, por que o problema da lavagem de dinheiro teima em passar despercebido por empresas. A resposta está na diversidade de operações disponíveis no sistema financeiro.
Exemplos incluem pagamentos de benefícios com aportes em conta por parte do governo, que podem ser seguidos de transações anômalas; a circulação significativa de dinheiro em espécie em cidades menores; pequenos comércios que fazem “fiado” para acerto no final do mês.
Outros arranjos que ilustram essa complexidade transacional incluem locais como as lotéricas, onde além de fazer jogos e apostas, é possível efetuar depósitos, saques, pagamentos de boletos e outras operações financeiras. Essa multiplicidade de canais traz diversas vulnerabilidades, que podem ser aproveitadas por fraudadores e exploradas para atividades ilícitas.
A evolução da tecnologia no combate ao crime
Para combater a lavagem de dinheiro em um cenário nada simples, a IA e analytics têm se mostrado essenciais. E além de ajudar a lidar com o grande volume e a variedade de transações que ocorrem no mercado financeiro brasileiro, o uso destas tecnologias traz outros benefícios.
Vale lembrar que comportamentos fora do comum ao longo das etapas de lavagem de dinheiro incluem a colocação de dinheiro sujo no sistema financeiro, a ocultação e, finalmente, a integração de fundos “limpos” de volta na economia, por meio de compras de bens e imóveis, por exemplo. Tecnologias de ponta baseadas em dados, portanto, tornam o trabalho dos analistas mais eficiente e rápido, ao identificar padrões suspeitos automaticamente.
A necessidade de uma evolução de tecnologias de ponta no combate à lavagem de dinheiro acelerou na transição para o digital, vista na pandemia de Covid-19, que expôs novas vulnerabilidades. Afinal, muitas pessoas que antes não utilizavam tecnologia passaram a realizar operações financeiras online. Com isso, instituições financeiras precisaram se adaptar rapidamente para monitorar e prevenir fraudes e lavagem de dinheiro neste novo contexto.
Passada a pandemia, no entanto, continuamos a ver uma série de métodos conhecidos de lavagem de dinheiro sendo amplamente utilizados. Empresas “de fachada” como bares, restaurantes, estacionamentos e outros negócios exercem o papel de lavar o dinheiro e dificultam a rastreabilidade de sua origem. Além disso, vemos o aumento na abertura de contas “laranjas”, que cumprem a função de ocultar valores.
Entre os diversos métodos usados por criminosos, também podemos citar o smurfing, onde valores são lavados através de pequenos depósitos para muitos colaboradores de uma grande empresa. Obras de arte podem ser compradas por um valor, e a venda é comunicada por um valor bem superior, com dinheiro recebido através de contas em paraísos fiscais.
Em resposta a estes movimentos, instituições financeiras têm se modernizado para conhecer melhor seus clientes e entender o risco que eles podem representar, investindo em tecnologias que permitem o monitoramento em tempo real de transações, análise de listas de sanções e bloqueio de transações suspeitas.
Durante a crise sanitária vimos muitas organizações se adaptando às pressas para lidar com fraudes e lavagem de dinheiro, o que resulta em diferentes níveis de maturidade para combate a estes tipos de crime. Algumas empresas ainda enfrentam problemas como a dependência de processos manuais, que se traduz em uma sobrecarga para os analistas e faz com que a resposta no combate a estes tipos de violações seja mais lenta e ineficaz.
O que vem por aí
Apesar da crescente sofisticação dos criminosos e desafios que empresas enfrentam dentro de casa, a tendência no combate à lavagem de dinheiro de forma geral deve caminhar rumo a adoção de tecnologias mais avançadas que permitem uma resposta proativa e eficiente.
Entre as inovações futuras que decisores na área devem ter no radar, destaco a avaliação em tempo real de transações e a implementação de tecnologias que não apenas identificam, mas também previnam fraudes de forma imediata. Com a evolução das ferramentas de IA, é possível acompanhar continuamente o comportamento dos usuários e identificar rapidamente atividades suspeitas.
Diante das diversas possibilidades de evolução em um cenário cada vez mais crítico, decisores podem considerar algumas práticas para levar suas estratégias de prevenção à lavagem de dinheiro para o próximo nível. Em primeiro lugar, empresas devem centralizar suas operações e utilizar ferramentas que integrem todas as etapas de monitoramento. A centralização permite, por exemplo, a criação de vínculos entre entidades e operações financeiras, o que facilita a detecção de padrões suspeitos e a atuação dos analistas.
O que uma organização ganha ao acompanhar estas evoluções no combate à crimes financeiros? Os benefícios são diversos: por exemplo, ao centralizar a estrutura de prevenção e utilizar IA, empresas ganham agilidade e eficiência em auditoria e conformidade com regulamentações. Esta abordagem também permite a transferência de inteligência de negócios para as ferramentas, aumentando a eficiência na detecção e prevenção de lavagem de dinheiro.
A luta contra a lavagem de dinheiro no Brasil é complexa e exige uma combinação de tecnologias avançadas e competências específicas. Empresas do setor financeiro que investem em IA e analytics estão mais bem posicionadas para detectar e prevenir atividades ilícitas, protegendo seus clientes, sua reputação e a integridade do sistema financeiro.
*Lucas Ermino, Especialista em prevenção a fraudes do SAS.
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